Desejo Sexual Feminino

Queixas relacionadas com o Desejo Sexual, ou mais concretamente com a sua diminuição ou ausência, são frequentemente escutadas no âmbito da consulta de Sexologia. Expressões como não sinto vontade de me envolver sexualmente, passo muito bem sem sexo” ou “procuro todas as desculpas e pretextos para me deitar quando el@ já está a dormir” são partilhas comuns, maioritariamente feitas por mulheres, e acompanhadas por sentimentos de tristeza e frustração.

Mas desenganem-se aqueles que pensam que esta é uma realidade unicamente afecta ao universo feminino. Queixas semelhantes têm vindo a ser reportadas em consulta por um número cada vez mais expressivo de homens, que se confrontam de igual forma com a diminuição e/ou ausência do seu desejo sexual, e que se julgam frequentemente sós numa problemática que parece “não lhes ser social e culturalmente admitida”.

Mas focando-nos neste artigo particularmente nas mulheres, importa realçar a ampla expressão desta realidade, sendo globalmente apontada como a disfunção sexual mais frequente no universo feminino. A nível nacional, os dados sobre a prevalência das disfunções sexuais femininas, apresentados num estudo conduzido pela Sociedade Portuguesa de Andrologia, indicam no que respeita ao desejo sexual que cerca de um terço das mulheres portuguesas sente falta de desejo.

Algumas destas mulheres poderão mesmo estar perante uma situação clínica que actualmente se designa de “Perturbação do Interesse/Excitação Sexual Feminino” e que anteriormente se conhecia como “Desejo Sexual Hipoactivo”.

E o que é que isto significa? Que existe uma marcada diminuição ou ausência do interesse sexual, de pensamentos ou fantasias sexuais e eróticas, do desejo de se envolver sexualmente e de dar início a esse envolvimento, ou não se sentir de todo disponível para tal envolvimento se for @ parceir@ a convidar, e ainda uma diminuição ou ausência de excitação e prazer sexuais, causando sofrimento e mal-estar significativos.

Convém contudo destacar que a diminuição ou a ausência do desejo ou da excitação e do prazer sexual nem sempre se traduzem em disfunções sexuais. Estamos perante experiências e sensações que resultam de uma complexa interação de factores de ordem biológica, psicológica, relacional e sociocultural, que flutuam ao longo do tempo e que influenciam diferentes respostas sexuais.

Alterações pontuais no interesse ou na excitação sexual são comuns ao longo da vida, e poderão estar relacionadas com factores de stress, tensão ou cansaço acrescidos, não se traduzindo necessariamente numa disfunção sexual. Estados emocionais de ansiedade e de depressão, a toma de determinados medicamentos como alguns antidepressivos ou agentes quimioterapêuticos, os conflitos relacionais no casal, ou factores de ordem hormonal, relacionam-se directamente com a resposta sexual, podendo impactar nela negativamente. Se considerarmos todas as idiossincrasias contextuais com que a pessoa e o casal se depara, e a ausência de interesse e excitação sexual se prolongar no tempo, sendo vivenciada com sofrimento e mal-estar individual e relacional, é fundamental a consulta de um especialista em Sexologia.

No âmbito da psicologia, a resposta de intervenção a este nível passa com frequência pela psicoterapia e pela terapia sexual, trabalhando individualmente com a mulher e sempre que possível com o casal. Em traços gerais procura-se explorar inibições, desmistificar crenças disfuncionais, trabalhar ao nível da intimidade emocional e comunicacional no casal, no sentido de os despertar para a vivência de uma intimidade mais prazerosa.

Cada caso é um caso, e deve ser sempre considerado à luz da sua experiência e vivência individual. Se sente dificuldades a este nível, não hesite em procurar ajuda especializada.